O impacto da Covid-19 no setor elétrico brasileiro

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O setor elétrico é um ótimo termômetro da economia e os últimos meses, com a crise da Covid-19, tiveram um impacto enorme sobre ele. O primeiro trimestre de 2020 estava em linha com o consumo de energia dos últimos dois anos (variação de -0,5% na comparação de 2020 com 2019 e +2,5% na comparação de 2020 com 2018), demonstrando uma razoável estabilidade da economia brasileira nesse período. 

Figura 1: consumo elétrico brasileiro em GWh de Jan – Mai, de 2018, 2019 e 2020. Fonte: ONS

Contudo, no dia 26 de fevereiro registramos nosso primeiro caso de Covid-19 no país na cidade de São Paulo. Um mês depois, no dia 24 de março, quando o Brasil completou 2.247 casos e o estado de São Paulo registrou 810, o governador paulista decretou o início da quarentena social e a parada das atividades consideradas não essenciais.

Dessa forma, a paralisação impactou as atividades do comércio e da indústria brasileira e, consequentemente, no consumo de energia desses setores.

Considerando apenas o mercado regulado de energia, aquele ambiente abastecido por leilões públicos e onde o preço é definido pelas distribuidoras locais com a aprovação da ANEEL, o comércio e indústria tiveram uma queda de 26% do consumo de energia em abril e maio de 2020 em comparação com a média do consumo no mesmo período em 2018 e 2019.

Figura 2: consumo elétrico do C&I em MWh de Jan – Mai, de 2018, 2019 e 2020. Fonte: ANEEL

Qual o paralelo com a crise do apagão de 2001?

No ano de 2001, registramos a maior queda histórica de consumo de energia até então, -7,8%. Em 2020, virtude da pandemia do Covid-19, apenas nos primeiros cinco meses de 2020, já registramos uma queda de -4,57% em relação ao mesmo período de 2019.

Figura 3: consumo elétrico brasileiro em GWh de 1999 até 2019 (anual). Fonte: ONS.

Iniciado em 2001, os cortes de energia elétrica promovidos pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para evitar o colapso da oferta e demanda  de energia, durante a conhecida “crise do apagão”, começou a ter grande impacto no consumo no mês de junho daquele ano, registrando uma queda de 18% comparado ao mês anterior (Mai/2001).

Antes da crise de 2001, o maior valor de consumo de energia elétrica mensal havia sido registrado pelo mês março de 2001 (32 TWh). Para alcançar novamente esse patamar, foram necessários três anos (março de 2004).

Figura 4: consumo elétrico brasileiro em GWh de 2001 até 2004 (mensal). Fonte: ONS

Quais devem ser as consequências da queda na demanda por energia elétrica de 2020?

É impossível prever com exatidão as consequências. Contudo, existe uma tendência de aumento do preço da tarifa de energia (Mercado Regulado), que impactará milhões de consumidores e um atraso de alguns anos para a retomada do nível de consumo de energia pré-pandemia.

Analisando o histórico recente de aumento de preços, a consequência deve ser o aumento nas instalações de Energia Solar e a migração de grandes consumidores para o Mercado Livre de Energia.

No ano de 2012, o governo federal aprovou a Medida Provisória 597, convertida na Lei 12.783, que reduziu os preços da tarifa de energia em 13,7% no ano de 2013. Contudo, o insucesso da política econômica fez a tarifa subir 105% desde então.

Figura 5: Crescimento do preço da tarifa de energia brasileira. Fonte: ANEEL

Esse crescimento do valor da tarifa demonstrou a elasticidade, diretamente proporcional, existente entre o preço da energia e o crescimento da geração distribuída e de novas migrações de clientes para o mercado livre de energia.

Figura 6: Comparação entre o número de Consumidores livres e especiais e a tarifa de energia. Fonte: CCEE.

 

Figura 7: Comparação entre o número de unidades consumidoras com geração distribuída e tarifa de energia. Fonte: ANEEL.

Contudo, esses dois movimentos, dentro das regulações brasileiras atuais, são preocupantes. Caso um consumidor decida por qualquer uma dessas estratégias, deixará um prejuízo para trás que será rateado entre os consumidores que não tiveram capacidade financeira para fazer o mesmo. 

Nesse cenário, fica claro que nossa regulação ainda é antiga e precisa ser modernizada para permitir que tenhamos um sistema elétrico sustentável. Iniciativas como o PLS 232/16, a revisão da REN 482, e a Conta Covid, caso bem conduzidas, podem corrigir tais ineficiências regulatórias 

Autor: Pedro Rio – formando na UFBA, é CEO da Clarke Energia. Foi Presidente da Confederação Brasileira de Empresas Juniores (Brasil Júnior) em 2016, trabalhou na Ambev em 2017 e em 2018 foi uma das lideranças da campanha do Felipe Rigoni (primeiro deputado federal cego da história).

Clarke Energia: startup investida pela Canary, pela FEAP e pela EDP Ventures, que acredita que as empresas podem modernizar a forma de como se relacionam com a energia. Em geral, promete até 30% de economia na conta de luz sem nenhum investimento inicial. Faça o diagnóstico gratuito.

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